terça-feira, 24 de julho de 2012

VESTINDO A CAMISA DA INSTITUIÇÃO NA QUAL GANHAMOS O PÃO: COM PALAVRAS E EXEMPLOS.

Outro Agente de Valor com o qual tive o prazer de interagir no decorrer do período de intervenção nos presídios regionais de Blumenau e Itajaí foi o dedicado J.B., que em nosso primeiro encontro profissional pronunciou uma frase que ficou marcada em minha memória: "Precisamos vestir a camisa da instituição na qual ganhamos o pão!" Essa singela frase possui um fundo muito importante, reveladora da consciência de que é necessário valorizar a instituição na qual se está engajado e contribuir, na medida das possibilidades, para a solução dos problemas que nela encontramos: fazer o melhor com o que se tem onde se está. Me fez recordar algumas ponderações feitas por Wiliam Douglas no site www.revolucao.info, no qual ele convida os funcionários públicos a fazer a revolução no metro quadrado em que atuam, para tornar os órgãos públicos locais de excelência em todos os sentidos. Na segunda oportunidade em que nos encontramos, agora no Presídio Regional de Itajaí, J.B. demonstrou em uma ação o conteúdo das palavras que havia proferido anteriormente. Observando uma inadequação de procedimento, aproximou-se, pediu licença e com uma atitude respeitosa e gentil sugeriu as correções necessárias, atuando de forma exemplar em uma oportunidade que, para muitos seria propícia para "tirar uma casquinha", fazendo chacota, para "subir usando o colega como degrau". Ao invés disso, J.B. manifestou discretamente: "Posso te dar um bizu?" Mediante o sinal positivo, compartilhou o que sabia, deixando o colega com quem interagiu inteirado do procedimento correto e sensibilizado com o respeito com que foi tratado. Esse tipo de profissional contribui para o aperfeiçoamento institucional e para a elevação do moral dos colegas, conduta necessária nas instituições de escol, pautadas pela excelência, pois a excelência institucional é produto da soma sinérgica das atuações com excelência das pessoas que as compõe. Parabéns, J.B., Agente que agrega valor!

terça-feira, 10 de julho de 2012

SINTONIA, DISPOSIÇÃO PARA A AÇÃO, COLEGUISMO E DESPRENDIMENTO

Os bons exemplos a gente não esquece. Ainda durante a intervenção, no Presídio Regional de Blumenau, em dezembro de 2012, um colega marcou com seu exemplo no que tange à disposição para a ação. M.F., popular Chicão, só tinha um defeito: ele estando por perto, quando a gente ouvia uma solicitação no sistema de rádio-comunicação e ia pegar uma chave para abrir algum portão - ou algo parecido -, ele já estava com ela na mão a alguns passos na frente, direcionando-se para a realização da tarefa. Defeito? Não! Um exemplo de sujeito "antenado" e extremamente disposto. Conviver com o Chicão equivale a tomar uma injeção contra a preguiça e a procrastinação; foi esse o efeito que senti. Obrigado, M.F., Agente de Valor que deixou essa marca em mim como profissional, espero conseguir mantê-la pelo resto de minha vida. E também pelo seu exemplo de coleguismo e desprendimento. Quando paramos no posto de combustível antes de retornarmos às nossas unidades, ele desembarcou e retornou com uma garrafa de 250 ml de água para beber e mais um litro, com copos descartáveis, para compatilhar com os colegas. Depois daquele dia, deixei de ser "pão duro" e segui seu exemplo, agindo com generosidade em diversas oportunidades. E, com toda a sinceridade, não tem me feito falta, pelo contrário, sinto as coisas melhorando cada vez mais. Como diz o ditado: "Palavras comovem, exemplos arrastam!" Obrigado e parabéns, nobre colega!
NÃO SE FAZ TUDO O QUE AS PESSOAS PEDEM E SIM AQUILO QUE TEM DE SER FEITO

No Presídio Regional de Xanxerê, no ano de 2008, observei a atuação do Agente Penitenciário R.M. que me marcou de forma muito forte com a compreensão de que nem tudo o que as pessoas pedem a gente deve fazer. Um dos internos estava causando problemas em uma das galerias e foi retirado da cela para conversar com o Chefe de Segurança e mais dois plantonistas (eu e o R.M). Ao ser comunicado de que seria transferido de galeria, o referido interno bradou: "Podem me bater, podem fazer o que quiserem, mas não me coloquem nessa galeria!" R.M. fitou-o serenamente e disse: "Nós não trabalhamos assim. Você fez por merecer, vai ser transferido e pronto!" A serenidade com firmeza produziu um efeito a princípio inesperado. O irrequieto reeducando, percebendo a inexorabilidade da afirmação, resignou-se com a transferência, que procedeu-se sem maiores alterações. Reservadamente, o experiente colega comentou: "Eu é que não entro nesse tipo de 'pilha', não vou acender estopim nenhum para agitarem a galeria. É daqui até ali e pronto!" Na nova galeria, o referido interno começou inclusive um processo de mudança de comportamento, face ao qua aproveitei a oportunidade para reforçar a mudança positiva de comportamento, tanto através de diálogos de aconselhamento quanto com o empréstimo do livro "Inteligência Emocional", de Daniel Goleman. Era o interno mais problemático que tínhamos e, melhorando o controle de suas emoções, tanto ele quanto nós todos só tínhamos a ganhar. Deu certo, ele ficou tranquilo, passou interagir na nova galeria com internos evangélicos e dentro de algum tempo passou a exercer o papel condutor dos cultos na galeria. Mas os méritos maiores, eu não tenho dúvidas, foram do colega R.M., Agente de Valor que não faz tudo o que as pessoas pedem e sim aquilo que tem de ser feito! É assim que precisamos trabalhar, com firmeza e determinação, porém com habilidade e acertividade para que as coisas "não saiam dos trilhos". Com rigor e firmeza temperados com serenidade e nobreza. O mesmo colega, visto como rigoroso pelos internos, é também respeitado por ser justo, sobre o que comentou em certa oportunidade: "Sou duro, mas justo!" É por aí!
ATITUDES PROFISSIONAIS QUE INSPIRAM: MANTER OS INTERNOS NOS LIMITES IMPOSTOS É MUITO MAIS UMA QUESTÃO DE INTELIGÊNCIA DO QUE DE FORÇA.

Ainda no decorrer da atuação como integrante da equipe de intervenção no Presídio Regional de Blumenau, participando de operações de revista nas celas, observei um procedimento por parte do líder da equipe, o Agente Penitenciário V.M., que me chamou a atenção. No decorrer das referidas revistas, os internos eram conduzidos ao pátio da galeria, com as mãos na cabeça. Porém em alguns casos o procedimento estendia-se por razoável período de tempo e o colega V.M., sensatamente, orientava os internos: "Um por um, começando pelo último à direita da fileira de trás, sente sobre a sandália!" Após determinado tempo, alternava novamente a posição. Um procedimento simples, porém que denota sabedoria e prudência. Sem abrir mão do mais acurado rigor com a segurança, houve o respeito à dignidade da pessoa humana com a alternância de posições. Considero que esse tipo de atitude gera um sentimento de respeito, penso que também nos internos, mas sobretudo nos colegas, que percebem sensibilidade e humanidade nesse tipo de atuação. Efetivamente, uma atitude de Agente de Valor, de quem pensa no que faz buscando fazer sempre melhor. Observei esse mesmo colega, V.M., realizando aquilo que defino como "esgrima mental" com os internos do semi-aberto, os quais empenhavam-se de todas as formas para ludibriá-lo com argumentos requintados para obter privilégios sem os méritos para fazer jus a eles. Não obtiveram nenhum sucesso nesse intento, porém as negativas se deram sempre com argumentos inteligentes e respeitosos, ao ponto de um dos representantes dos internos afirmar: "Seu V., assim não dá. O senhor deixa nós sem argumentos!" A resposta foi pronta: "Aquilo que vocês querem não depende de argumentos, depende de comportamento!" E com isso, o comportamento esperado se fez realidade e, consequentemente, a concessão foi feita. Sereno, tranquilo, porém firme e determinado, V.M. demonstrou o que cabe ao profissional Agente Penitenciário demonstrar nesse tipo de situação: as pessoas internadas em estabelecimentos penais precisam conhecer os seus limites e arcar com as consequências de suas atitudes, porém manter essas pessoas nesses limites é muito mais uma questão de inteligência do que de força. Parabéns, V.M., Agente de Valor!
SOMOS PELA MORALIZAÇÃO DO SISTEMA PENITENCIÁRIO, CUSTE O QUE CUSTAR!

No decorrer da atuação como Agente Penitenciário no Presídio Regional de Blumenau, tive a grata satisfação de ler na porta de entrada do setor administrativo da unidade: "Somos pela moralização do sistema penitenciário, custe o que custar!" E observei, no decorrer do período em que lá estive, esforços intensos em diversos sentidos, apesar das barreiras interpostas tanto pelo ambiente conturbado quanto pela nefasta cultura que se formou no decorrer de anos, a qual o então Gerente, G.A.S., juntamente com o chefe de Segurança C.C. e sua equipe, empenhavam-se para superar. Foi com grata satisfação que presenciei, em novembro de 2011, um caminhão de mercadorias (hortifrutigrangeiros) ser mandado de volta, por não ter a nota fiscal das mercadorias. É desse tipo de administração que os estabelecimentos prisionais e os órgãos públicos em geral necessitam: pautados no rigor, na transparência, na efetiva correção dos procedimentos. Senti-me na ocasião, e sinto-me cada vez mais motivado, a partir de exemplos como esse, a fazer mais e melhor para tornar o sistema penitenciário um local de prática da excelência, com o cultivo de valores como honradez, ética e moralidade. Parabéns, G.A.S. e C.C., Agentes de Valor! Obrigado pelo exemplo e pela inspiração. E parabéns aos responsáveis pelos órgãos de direção que, apesar dos tantos desafios e limitações com que se defrontam, empenham-se para fazer o melhor, principalmente no sentido de contemplar pessoas como G.A.S. e C.C. para posições de liderança nas unidades.
NOVO ESTILO DE VER E FAZER AS COISAS: OBTENDO OS RESULTADOS DESEJADOS SEM ALTERAÇÕES, NEM MESMO NO TOM DE VOZ

Boas práticas no sistema penitenciário tem a ver com um novo estilo de ver e fazer as coisas no exercício dessa atividade. Em janeiro de 2012, no decorrer de uma operação de revista geral em uma galeria do semi-aberto no Presídio Regional de Blumenau, chamou à atenção a atitude do colega L.F.S., de Criciúma, que mediante a agitação dos internos que estavam sendo retirados para o procedimento da revista, expressou, com voz firme e ao mesmo tempo serena: "Está tudo bem, pessoal, não é necessário ninguém se exaltar. Vamos fazer o nosso trabalho, vocês fazem a parte de vocês, aguardam, nós fazemos a nossa parte, vocês retornam, tranquilo, sem estresse!" Foi interessante observar como o tom firme e ao mesmo tempo sereno cundiu o efeito desejado. A operação foi realizada com o rigor necessário, porém sem nenhum tipo de excesso e também sem reações concitadoras de desordem por parte dos internos. Considero um excelente exemplo de profissionalismo, obtendo os resultados com pleno domínio da situação, sem alterações, nem mesmo no tom de voz. Parabéns, L.F.S., Agente de Valor! É de líderes de equipe com esse perfil que necessitamos. Passou segurança e tranquilidade para a equipe, que desempenhou com excelentes resultados o seu papel, tudo dentro da legalidade, da moralidade e da mais absoluta normalidade! Um dos colegas comentou: "Rigor sem terror, é isso aí!" No decorrer daqueles dias muitos diálogos se sucederam com o nobre colega, que também manifestou: "O Sistema Penitenciário precisa evoluir, tem muita gente boa no sistema e a atual direção é parceira de idéias que venham para melhorar o sistema. Precisamos pensar e propor projetos para que isso aconteça e as melhorias se tornem uma constante em nosso setor de trabalho." Sábias palavras!
SERES HUMANOS DE GRANDE VALOR DEDICANDO-SE COM EXPRESSIVO PROFISSIONALISMO NA REALIZAÇÃO DE MISSÃO ÁRDUA, PORÉM ALTAMENTE COMPENSADORA

O blog Agentes de Valor tem por objetivo compartilhar com os interessados boas práticas presenciadas no decorrer da atuação como Agente Penitenciário no sistema penitenciário, principiando pelo Estado de Santa Catarina. Apesar do cenário desafiador, nele muitos seres humanos de grande valor dedicam-se com expressivo profissionalismo na realização de uma missão árdua, porém altamente compensadora para quem tem consciência do signficado da profissão. Tais atuações foram presenciadas em um contexto no qual os Agentes Penitenciários passam a exercer o protagonismo, tanto assumindo a liderança nas unidades prisionais (cujos cargos de diretor e chefe de segurança até pouco tempo eram exercidos por indicados políticos leigos e/ou integrantes de outras corporações da Segurança Pública), quanto contando com um colega Agente Penitenciário na direção do DEAP - Deapartamento de Administração Penal. Cumpre também destacar o lema adotado pela atual gestão da Secretaria da Justiça e Cidadania: "Sistema humanizado, cidadania respeitada." Consideramos que o desafio de humanizar o sistema é tarefa árdua, que requer expressivo empenho para superar décadas de equívocos, período no qual os Agentes Penitenciários (então Agentes Prisionais) atuavam como uma espécie de "sub-categoria". Objetiva-se, ao compartilhar as boas práticas, contribuir também para a elevação da auto-estima da categoria, fator decisivo para ampliar o nível de humanização do sistema penitenciário. Importa salientar que as boas práticas apresentadas nesse espaço são uma breve amostra representativa da atuação dessa categoria profissional, formada em sua imensa maioria por profissionais honestos e dedicados ao cumprimento do dever e cumpridores de uma função essencial em nossa sociedade: manter nos limites da lei pessoas que descarrilharam do caminho da sensatez.